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PF investiga médico baiano por esquema ilegal de venda de similar do Mounjaro

Dr. Gabriel Almeida. Imagens Instagram pessoalmontagem JornalCFF
Dr. Gabriel Almeida. | Imagens do Instagram pessoal/montagem JornalCFF

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A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (27) a Operação Slim, que mira uma rede suspeita de produzir, fracionar e vender ilegalmente tirzepatida — princípio ativo do medicamento Mounjaro, indicado para diabetes e emagrecimento e cuja patente pertence à farmacêutica Eli Lilly. Entre os alvos está o médico baiano Gabriel Almeida, que acumula quase 750 mil seguidores nas redes sociais e atende em uma clínica de alto padrão na Avenida Brasil, no Jardim Europa, área nobre de São Paulo.

A operação cumpre 24 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Segundo a PF, o grupo mantinha uma estrutura clandestina de fabricação do composto, em condições incompatíveis com padrões sanitários, realizando envase, rotulagem e distribuição como se fosse produto regular de manipulação. A investigação encontrou indícios de produção em escala industrial — prática proibida para farmácias magistrais — e comercialização pela internet sem controles mínimos de esterilidade, qualidade ou rastreabilidade.

Em nota, a PF afirmou que a organização utilizava “estratégias de marketing digital” para dar aparência de legalidade ao produto, enquanto vendia canetas injetáveis sem garantias de segurança. As buscas desta quinta visam identificar toda a cadeia de produção e recolher documentos, equipamentos e insumos para perícia. A ação teve apoio da Anvisa e das vigilâncias sanitárias estaduais.

O papel do médico investigado

Segundo a PF e o Ministério Público Federal, Gabriel Almeida é apontado como sócio oculto da LCA Farmacêutica, empresa que atua sob o nome fantasia Unikka Pharma e é suspeita de importar e manipular ilegalmente grandes quantidades de tirzepatida. Ele teria papel central na operação, intermediando médicos prescritores, atraindo pacientes e divulgando informações consideradas enganosas sobre a possibilidade de manipular o medicamento apesar das restrições impostas pela Anvisa.

A investigação aponta ainda repasses expressivos da LCA para empresas ligadas ao médico, incluindo um pagamento de R$ 3,4 milhões a uma firma de cursos profissionais de sua titularidade. Para os investigadores, esses vínculos reforçam a suspeita de que Almeida integraria a estrutura responsável por abastecer o mercado clandestino.

Buscas foram realizadas em endereços associados ao médico, incluindo unidades de suas clínicas em São Paulo, Salvador, Petrolina e Feira de Santana. A PF também investiga a compra de uma ilha na Baía de Todos os Santos, supostamente utilizada como ponto de encontro do grupo.

A defesa

Em nota, a defesa de Gabriel Almeida afirmou que ele é “apenas prescritor”, não produz medicamentos e que a acusação seria “tecnicamente impossível”. Os advogados também rejeitam o que classificam como “julgamento midiático” e dizem que o médico sempre atuou com transparência.

Risco sanitário e violação de patente

Além dos crimes contra a saúde pública, a operação investiga possível violação da patente da tirzepatida, já que o grupo teria produzido o composto em volume incompatível com qualquer forma legal de manipulação. Para a fabricante Eli Lilly, que apresentou a denúncia inicial, o esquema coloca consumidores em risco, já que as supostas canetas emagrecedoras clandestinas eram distribuídas sem qualquer garantia de procedência.

As investigações seguem em andamento, e nenhum dos suspeitos teve prisão decretada até o momento.

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