– Mídia liberal inicia ataque orquestrado a Lula mentindo e distorcendo dados da economia
Fórum/Plínio Teodoro
Em meio à guerra na ultradireita bolsonarista, que balança a candidatura Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) pela chamada terceira via – consórcio que une Centrão e Faria Lima aos oligarcas dos veículos de comunicação – e o avanço das investigações da Polícia Federal (PF) sobre o elo da direita com facções criminosas como o CV e o PCC, a mídia liberal deu início a um ataque orquestrado ao governo Lula mentindo e distorcendo dados da economia, um dos principais trunfos que deve ser usado pelo petista na tentativa de se reeleger ao quarto mandato em 2026.
A ação orquestrada foi desencadeada pela Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (4) e ecoada por praticamente todos os veículos – de Globo a CNN – da mídia liberal.
Citando dados “compilados pela agência de classificação de risco Austin Rating a partir das projeções feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)” de outubro, o jornal da família Frias estampou a manchete dizendo que “Brasil é ultrapassado pela Rússia e deixa ranking das 10 maiores economias do mundo”.
“Barriga da Folha. Baseou-se na comparação dos PIBs convertidos em dólares a taxa de câmbio correntes. Por esse critério um país que experimenta uma grande valorização em relação ao dólar registra um crescimento espetacular do PIB”, afirmou o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, que foi diretor executivo pelo Brasil e outros países no FMI e vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017.
Segundo o economista, que é colunista desta Fórum, “pelo critério mais correto de comparação, que pode se baseia em PIBs calculados por paridade de poder de compra, o Brasil continua a ser a oitava economia do mundo. A Rússia é a quarta ou quinta”.
O “compilado” da Austin contrariam o próprio relatório World Economic Outlook, que o FMI divulgou em outubro e detalha a chamada “corrida dos PIBs” até 2030, último ano para o qual o organismo apresenta previsões.
Segundo o estudo, a projeção é que o Brasil cresça 2,4% em 2025, superando a média da América Latina e do Caribe – dado confirmado pelo Banco Mundial. Caso sejam confirmadas as estimativas, o Brasil vai apresentar a 5ª maior expansão econômica entre os membros do G20 neste ano.
O FMI lista como um dos principais fatores que influenciam o bom momento da economia brasileira, mesmo dia de riscos globais com a guerra tarifária desencadeada por Donald Trump, o aumento do consumo interno devido à taxa de desemprego, de 5,4%, o que coloca o país em uma situação de pleno emprego. O Fundo ainda cita as exportações do agronegócio, o investimento interno e as reservas cambiais – que funcionam como um “colchão” contra choques externos – como trunfos econômicos do Brasil.
O que a Folha – e os cúmplices da mídia liberal – esquecem de dizer é que a Austin Rating, única agência brasileira de classificação de risco, tem origem em uma empresa de consultoria financeira e, após briga judicial entre sócios que se acusavam de fraude, se envolveu em um movimento especulativo para beneficiar seu fundador e atual CEO Erivelto Rodrigues.
Em 2012, a Austin Rating classificava o Banco BVA como uma instituição de “baixo risco” até dois meses antes da intervenção do Banco Central. Posteriormente, foi descoberto que o BVA mantinha negócios em sociedade com Rodrigues.
Responsável pelo ranking, a Austin tem como economista-chefe, responsável por análises e metodologia da agência, Alex Agostini, que recentemente atacou o fim da escala 6×1, classificando como “medida populista”, que “mantém a economia limitada em seu crescimento e aumenta a vulnerabilidade fiscal”.
Lembrando as previsões de “especialistas” sobre o fim da escravidão e o pagamento do 13º salário – que quebrariam a economia – Agostini afirmou que a redução da jornada de trabalho pode resultar em uma perda de 1,2 milhão de empregos e reduzir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A análise, obviamente, ganhou grande repercussão na mídia liberal.
Veja distorce
Após a “barrigada” – jargão jornalístico para fake news ou notícia com erros crassos – da Folha, a revista Veja estampa em sua capa “o mito do pleno emprego”, apontando supostos erros na contabilização do índice histórico do desemprego, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, festejado pelo presidente Lula que, segundo a publicação, estaria “ávido por boas notícias que impulsionem sua popularidade e suas chances de reeleição em 2026”.
Sem dados para contestar, a publicação primeiramente recorre a uma máxima de Roberto Campos, ministro de Planejamento da Ditadura e avô de Roberto Campos Neto, alçado à Presidência do Banco Central por Jair Bolsonaro (PL) e um dos artífices das armadilhas fiscais que beneficiam especuladores e agentes do sistema financeiro: “as estatísticas são como biquíni: o que revelam é interessante, mas o que ocultam é essencial”.
Em seguida, a publicação porta-voz da Faria Lima convoca o José Pastore, um dos maiores especialistas brasileiros no tema para atacar a metodologia usada pelo IBGE, mesmo reconhecendo que a autarquia “segue padrões mundiais estabelecidos pela Organização Internacional do Trabalho”.
O que a Veja não diz é que em 2001, Pastore se tornou “consultor informal” de Francisco Dornelles, então ministro do Trabalho do governo Fernando Henrique Cardoso, na tentativa de “flexibilizar o artigo 7º, que trata dos direitos dos trabalhadores – entre eles férias, 13º, FGTS e licença-maternidade”, segundo reportagem da Folha de S.Paulo à época.
Com Lula colecionando, mais uma vez, números positivos na economia e colocando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como porta-voz, a mídia liberal liga o modo pânico e passa a usar o histórico “terrorismo econômico” contra governos progressistas para antecipar a disputa eleitoral, que pode levar o presidente a seu quarto mandato na Presidência da República.

