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“Flávio Bolsonaro presidente”: Entenda como uma ideia tosca enterrou o clã

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Estratégia estúpida reuniu vários pontos pessimamente calculados que acabaram por resultar num funeral político melancólico para a família que crê ser dona do Brasil. Veja cada fracasso. Créditos: Valter Campanato/Agência Brasil

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Fórum/Henrique Rodrigues

É difícil imaginar onde os integrantes da família Bolsonaro estavam com a cabeça na última sexta-feira (5) quando o primogênito Flávio anunciou que uma decisão, do pai, estava tomada: ele seria o candidato à Presidência da República representando o líder extremista que está preso cumprindo pena de 27 anos. Embora a notícia tenha se espalhado na velocidade da luz e figurado nas manchetes de todos os veículos de imprensa do país, ocasionando inclusive uma queda drástica histórica na bolsa de valores e provocando uma alta alarmante do dólar, o que veio em seguida foi ainda pior e pode ser classificado como uma sequência de revéses devastadores que terminou por enterrar o clã que representa a extrema direita no Brasil.

Agora, passadas “72 horas”, o que fica nítido com a poeira assentada é que a estratégia estúpida terminou de destruir com o que sobrava de poder da família, que se dissolveu completamente depois que o próprio filho mais velho, “o candidato”, resolveu cometer um sincericídio em frente às câmeras das TVs. Acompanhe o apanhado de erros grotescos listados e explicados que a Fórum traz para compreender a sucessão de pontos pessimamente calculados que levou os Bolsonaro ao fracasso absoluto.

1 – Decisão tomada sem consultar ninguém.

Flávio foi visitar o pai na cela especial onde cumpre pena, na sede da Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Lá ele teria sido “ungido” pelo “mito” e tinha uma missão: sair pela porta e avisar ao Brasil que era o nome escolhido para representá-lo. Nenhum quadro, nenhum interlocutor, nenhum parlamentar de peso do bolsonarismo, nem mesmo o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi consultado ou avisado. Num país com a dimensão política do Brasil, ninguém tem como tomar tal atitude sozinho e pensar que as coisas correrão dentro da normalidade. E não correram.

2 – Rejeição gritante de um extremista

Todos os integrantes da família Bolsonaro são vistos como extremistas e com Flávio não é diferente. Assim como o pai e o irmão Eduardo, o senador só tem ressonância dentro da bolha de talvez um terço do eleitorado fanático de Jair Bolsonaro. Fora dela, no terço que normalmente decide as eleições presidenciais no país, o primogênito é visto como mais um radical que integra o clã de trambiqueiros mentirosos, lembrado sempre por seu escândalo das rachadinhas.

3 – Na contramão de tudo em relação ao centrão

O bolsonarismo não existe sem o centrão. Esse setor fisiológico e promíscuo se rende nos últimos dois governos a boa parte dos interesses da família extremista porque faz uso de seu eleitorado. Na prática, aceitam a maior parte da bobjada de Jair e dos filhos para assegurar os votos de seus eleitores nas mais diversas regiões do país. No entanto, está explícito que o centrão terá papel crucial na composição e costura da chapa que enfrentará o presidente Lula no ano que vem, e nenhuma das hipóteses colocadas na mesa até agora previa um Bolsonaro como candidato na cabeça de chapa, muito menos sem consultas, conversas ou conexões políticas bem amarradas. Resultado: o poderoso grupo deu de ombros e expressou claramente que não participaria disso, deixando a família falando sozinha.

4 – Rifar Tarcísio sem dar satisfação

O anúncio de Flávio Bolsonaro de que o pai o escolhera foi simplesmente um rolo compressor passando por cima do governador Tarcísio de Freitas, de São Paulo. É indiscutível que o nome com mais chances de enfretar Lula é o do carioca, assim como é notoriamente o preferido do centrão, da Faria Lima e de outros atores que vivem de tentar implodir o PT a cada quatro anos. O filho mais velho de Jair Bolsonaro fez um anúncio oficial que, para além de lançar seu nome, tinha como principal intenção acabar com o protagonismo de Tarcísio. O problema é que ninguém aceitou isso, nem o centrão, nem a Faria Lima e nem o próprio Tarcísio, que até agora segue mudo sem comentar a escolha do “capitão”.

5 – Ninguém teve senso de realidade

Flávio Bolsonaro sendo anunciado como futuro candidato à Presidência por escolha de seu pai foi algo fora da realidade. E foi justamente isso que faltou à família Bolsonaro: senso de realidade. Na quase totalidade dos meios de comunicação, nas redes sociais, nos corredores do Congresso, enfim, todos encararam o anúncio como uma piada. Flávio é um político fraco, sem carisma algum e que também sempre é lembrado por ter passado mal e desmaiado num debate televisivo de 2016, à época da eleição municipal do Rio, só porque teve que enfrentar Jandira Feghali, adversária de esquerda. O vídeo com a cena é um meme eterno.

6 – Voltou atrás e cometeu sincericídio

No sábado, pouco mais de 24 horas após ser anunciado como candidato que representaria Jair Bolsonaro na corrida ao Palácio do Planalto, Flávio já deu sinais de que percebera a bobagem que fizera junto com o pai. Ele admitiu sem rodeios que poderia, sim, desistir da candidatura, mas também sem rodeios disse algo que dinamitou o clã: “eu tenho um preço e vou negociar”. Numa família desde sempre envolta em acusações de corrupção, na qual o patriarca está sendo processado sob a acusação de furtar joias e objetos de valor do Estado para mandar vender e ficar com o dinheiro, inundada por anos em escândalos de compras de dezenas de imóveis com dinheiro vivo, aparecer assim, dando “um preço” para vender sua candidatura, foi uma verdadeira implosão.

7 – O tal “preço”

Sua frase dantesca e sem pudores, a bem da verdade, guardava um significado muito mais objetivo e igualmente espúrio. O tal “preço” de Flávio Bolsonaro referia-se a abrir mão da candidatura, para que o centrão indique então seus nomes para a chapa que disputará a eleição presidencial de 2026, em troca de que os deputados e senadores do próprio centrão votem rapidamente uma anistia “ampla, geral e irrestrita” que colocaria seu pai em liberdade. Nesse caso, parece até piada. Quem disse a Flávio que o centrão quer Jair Bolsonaro solto?

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