Não falha. É ‘raro’, mas acontece com frequência, de políticos filiados ao Partido Liberal (PL), estarem ligados a polêmicas e discursos de ódio. E não é só na esfera nacional. Na manhã desta terça-feira (25), o vereador Manoel Filho (PL), usou a tribuna da Câmara de Vereadores de Camaçari para lançar críticas sobre a organização do Bahia Gospel Festival e sobrou até para uma das atrações, o cantor Felipão, morador do município, atacado com falas gordofóbicas e desrespeitosas.
Talvez temendo perder um reduto que atualmente tem hegemonia da direita, Manoel Filho, que também é presbitério da Igreja Assembleia de Deus, iniciou sua análise classificando o evento como “enganação”. Ele afirma que o festival só foi realizado no município porque o grupo petista teria perdido a “massa dos evangélicos”. “Querem ganhar com ‘eventozinho’ gospel, essa é a pura realidade”, acusou. O vereador seguiu dizendo, que a parceria entre o Governo do Estado e Prefeitura Municipal é um ato eleitoreiro. “É engodo, é enganação, quer comprar voto pro próximo ano”, disse.
O estranho dessa afirmação é que não é a primeira vez que o festival Canta Bahia é realizado em Camaçari. Nos anos de 2023 e 2024 o evento aconteceu no mesmo formato do atual, inclusive com o apoio do Governo do Estado. A única grande diferença é que o prefeito, nas edições anteriores, era Antônio Elinaldo (União Brasil), aliado político do presbítero vereador. Ou seja, de acordo com o pensamento de Manoel Filho, o festival de adoração a Deus serve para enganar o eleitor cristão e garantir votos. “Essa é a pura realidade”, palavras dele.
Como se uma declaração dessas já não fosse suficiente, o político pesou a mais ainda a mão quando se referiu ao cantor Filipão, que se apresentou no primeiro dia de festival. “Será que na cidade não tinha, cantores gospel para ser selecionado? Pra colocar o “xodozinho de Jesus”, que tá nomeado na Serin, tirando o pão de quem não está recebendo nada e ele comendo com nomeação e agora recebendo cachê como cantor”, indagou o vereador, utilizando a música “Xodó de Jesus”, interpretado pelo músico, para ironizar.
“É claro que ele é o xodó, se ele tá comendo. Goooordo de tanto comer! Vamos dar oportunidade pra quem não tem?”, declarou exaltado, dando ênfase ao “gordo”. É difícil de acreditar, mas a declaração vem de um obeso em tratamento (bariátrica), que apresentou na Câmara o Projeto de Lei Nº 108/2025, criando o Programa Municipal de Prevenção e Enfrentamento ao Bullying e ao Cyberbullying no município. Hoje! O projeto foi aprovado pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara e enviado à Comissão de Educação e Assistência Social, hoje.
A declaração repercutiu rapidamente, e a vítima se pronunciou através das redes sociais. Visivelmente abalado, e com lágrimas nos olhos, o cantor disse estar a base de remédios enquanto tenta assimilar o ataque gratuito. “É com muita tristeza que hoje eu fui vítima de gordofobia, e isso me persegue desde criança, desde a escola. Sempre fui um menino gordinho, os meninos não queriam brincar comigo, porque eu sempre fui fora da curva né? Sempre fui gordinho”, desabafou.
“O que foi que eu fiz contra ele? O que foi que eu fiz contra alguém? Eu queria saber. Eu sou um cantor de carreira na cidade, há 15 anos eu toco na cidade de Camaçari. Eu estou aqui a base de remédios, porque até agora eu não consegui assimilar ainda tudo que está acontecendo”, contou Felipão, apresentando também informações sobre sua carreira musical, participações em eventos e premiações. O cantor aproveitou a oportunidade para fazer um questionamento ao presbítero: “Queria perguntar ao vereador Manoel Filho, porque tanto ódio? É isso que Deus ensina a um filho?”
Apesar de não ser considerado crime no Brasil por falta de legislação específica, atos de gordofobia podem ser punidos como outros crimes, como injúria (ofensa à honra) e dano moral. Ou seja, chamar alguém de “gordo” com a intenção de ofender a honra ou dignidade da pessoa é crime de injúria, conforme o Código Penal (Art. 140). O vereador ainda não se pronunciou após a repercussão do caso. Já nas redes sociais, amigos do cantor pedem que o artista procure providências legais contra o ato.
